O Lambe-Lambe

O Lambe-Lambe

segunda-feira, 16 de março de 2015

A mesma rua



   Ainda é a mesma casa,
   O mesmo número,
   A mesma rua.
   Ainda é o mesmo sol.
   Ainda é a mesma lua.

Trecho da letra de um choro antigo
          Década de 50 


Foto de uma rua do bairro Jardim Botânico

PAISAGENS I



Como nuvens pelo céu
Passam os sonhos por mim.
Nenhum dos sonhos é meu
Embora eu os sonhe assim.
São coisas no alto que são
Enquanto a vista as conhece,
Depois são sombras que vão
Pelo campo que arrefece.

Símbolos? Sonhos? Quem torna
Meu coração ao que foi?
Que dor de mim me transtorna?
Que coisa inútil me dói?




FOTOS DE NILTON MAIA

sexta-feira, 13 de março de 2015

JANELAS DO RIO I

 
ESQUINA DA RUA PACHECO LEÃO - HORTO - JARDIM BOTÂNICO


JANELAS

Signo da casa,
Repositório de lembranças,
De há muito ocultam,
Dos olhares curiosos,
Os íntimos recantos
Dos que habitam os cômodos.
Voyeurs inveteradas,
Guardam egoisticamente para si
Tal prazer solitário,
Vedando-o ao mundo.

Nilton Maia (09/03/2015)


quarta-feira, 11 de março de 2015

Biblioteca Nacional




A livraria trazida de Lisboa por D. João VI compunha-se de 14.000 volumes, além de 6.000 manuscritos. Por ocasião do regresso da família real, grande parte dos manuscritos voltou a Portugal. No ajuste das contas da Independência, D. Pedro I mandou pagar pela biblioteca quatrocentos contos de réis, ordenando que fosse franqueado ao público (alfabetizado?) transformando-se em Biblioteca Nacional.


Memórias da Cidade do Rio de Janeiro, Vivaldo Coaracy


***

terça-feira, 10 de março de 2015

Rio em Flor de Flamboyant



As melodias ouvidas são doces; mas as não ouvidas
São ainda mais...

John Keats (1795 – 1821)




Os flamboyants são originários de Madagascar 


Se aclimataram tão bem aqui que se tornaram cariocas
Essas árvores são a cara do Rio




Fotos: Flamboyants do Mirante do Pasmado - Botafogo

***

domingo, 8 de março de 2015

PELO DIA INTERNACIONAL DA MULHER

RODOLFO AMOEDO - MARABÁ 
GALERIA DE ARTE BRASILEIRA - MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES - RJ
FOTO DE NILTON MAIA

ENQUANTO

Tiveres teus sonhos quase impúberes
Destroçados pelas surras hediondas
Que te aplica quem se acha teu senhor,
Que te comprou, a teus pais, como a um bicho.  
E que as pedras te massacrem até a morte,
Por julgarem-te, simplesmente, uma adúltera.

Tiveres que dar cabo à tua vida
Por teres meramente enviuvado.
E fores açoitada com inclemência
Por mostrar os cabelos e o rosto,
Ao erguer, na rua, o véu da burca,
Acusada de despertar libidinagem.

Permitires que arranquem, em dor extrema,
Partes de tua íntima anatomia,
Num ritual perverso e torturante,
E que é, por fêmeas, perpetrado.
E tiveres teu corpo que vender,
Para impedir que a fome te destrua.

Aceitares o que dizem os livros sacros,
Que deviam falar de tolerância,
Propagando que sejas, aos homens, submissa.
E, vezes tantas, não te sublevares,
Quando te colocam em lados separados
 Nos meandros deste nosso louco urbe.

Impuserem-te leis e códigos deletérios,
E entre grades te trancafiarem,
Por, dispondo de teu corpo e livre arbítrio,
Decidires que das entranhas te extraiam
O que resulta de uma cópula, imposta ou aceita,
Sem ouvir sequer teus argumentos.

Tiveres, muitas vezes, que esconder,
Em nome de pretensa paridade,
Aquilo que de mais nobre te habita
E que te faz una, bela, portentosa,
Contendo, em si, um universo:
A dádiva de mulher teres nascido.

Tudo isso ainda te afrontar,
Não cantarei, pois, loas à data.
Prefiro louvar-te todo dia,
Na grandeza que sempre representas:
Fonte da vida, lampejo de esperança,
Luz nas trevas de meus olhos fatigados.

Nilton Maia (08/03/2015)